Tudo
bem? No post de hoje iremos conversar sobre o livro “Abril Despedaçado” de Ismail Kadaré. “Prilli
i Thyer” foi publicado originalmente em 1978, no Brasil foi
publicado pela Companhia das Letras com tradução de Bernardo Joffily.
Sinopse:
O jovem montanhês Gjorg Berisha dá um
tiro de fuzil e "toma o sangue" de Zef Kryeqyq. É a quadragésima
quinta morte de uma vendeta iniciada setenta anos antes, quando um desconhecido
foi vítima de um Kryeqyq depois de ser acolhido pelo clã dos Berisha. A matança
entre as duas famílias é uma imposição do Kanun, código moral que há séculos é
transmitido de boca em boca nas montanhas albanesas (assim como na região de
Kossovo). Com rigor de antropólogo, Ismail Kadaré vai ao fundo dessa fantástica
codificação do assassinato como direito e dever e extrai de lá toda a fúria das
tragédias. Tão minucioso quanto cruel, o Kanun especifica os menores detalhes
da vendeta: quem, como, onde e quando matar; a posição do cadáver; o anúncio da
morte; o velório e o banquete fúnebre; o sepultamento da vítima; os prazos da
vingança e as tréguas entre os clãs; as humilhações que devem ser impostas à
família enquanto ela não “recuperar o sangue” que lhe foi tomado. O jovem Gjorg
cumpre seu dever de cobrar dos Kryeqyq o sangue que eles devem aos Berisha, e
os Kryeqyq têm agora o direito de recuperar o sangue que lhes foi tomado,
matando Gjorg dentro de 28 dias. É o Kanun – esse círculo vicioso de execuções –
que impulsiona o enredo de Abril despedaçado.
Esse
é um livro profundo, muito bem descrito e que merece e necessita de algumas
releituras. É interessante como o autor se utiliza de várias vozes narrativas
para nos mostrar os vários pontos de vistas envolvidos na história relatada,
tornando a narrativa um grande mergulho cultural:
· Temos Gjorg Berisha, a pessoa que está vivendo o
drama de matar o assassino do irmão, ao mesmo tempo em que coloca um alvo em si
mesmo, a pessoa que está sentindo na pele essa tradição.
· Também temos a visão de Bessian Vorps, escritor que
tem uma grande curiosidade sobre o Kanun, mas não está envolvido, não está ao
alcance de suas consequências, portanto uma visão mais romantizada e sonhadora
dessas regras morais.
· Bem como sua esposa, Diana Vorps, que trás uma
visão mais questionadora, menos sonhadora que a do marido, permitindo uma
discussão sobre a ética e a moralidade do kanun de forma extremamente rica, que
pode ser estendida ao código moral da nossa sociedade.
· E a visão de um dos responsáveis pela casa de
Orosh, local que zela pela manutenção do Kanun, em consequência lucra com o
pagamento dos tributos referentes as vendetas.
Se
tem uma reclamação a fazer é que: QUERIA MAIS, achei o final um pouco abrupto,
mas isso é muito condizente com a narrativa, porém gostaria de mais descrições
do ambiente, que é incrível, de tirar o folego (sim, fui ao Google pesquisar),
mas também é justificável quando analisamos a situação vivenciada pelos
personagens.
O
livro recebeu uma adaptação brasileira, onde o diretor Walter Salles transporta
a narrativa das montanhas albanesas para o sertão brasileiro, com várias
alterações no enredo, com Rodrigo Santoro (que está MARAVILHOSO) e Vagner Moura
– vale a pena conferir, mas que é muito diferente do livro.
Então
é isso, fica minha forte indicação, espero que vocês tenham gostado, beijos e
até a próxima.
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