O post de hoje será
para falar sobre o incrível livro "Memórias
Póstumas de Brás Cubas" do também incrível Machado de Assis. A princípio a
obra foi desenvolvida como folhetim, e lançada entre os meses de março e
dezembro de 1880, na Revista Brasileira, sendo publicado como livro em 1881.
Ele foi lido para
representar o Brasil no PLM e como “um livro clássico” para o Desafio Literário
de 2015 (categoria de Maio). Sendo escrita com tom irônico, cáustico e
incrível, característica de Machado, "Memórias
Póstumas" é considerada a obra que iniciou o Realismo no Brasil.
O livro é escrito em
primeira pessoa, narrado por Brás Cubas, que vai nos contar suas memórias
conforme elas vão surgindo, e dessa forma fazendo a conexão entre os fatos. Brás
inicia suas memórias com o que considero a melhor dedicatória que já li na
minha vida:
Sim, Brás nos conta
suas memórias após sua morte, do “além-túmulo”, e isso nós é informado no
inicio da história. O narrador, Brás Cubas, em suas próprias palavras, não é um
autor defunto, mas um defunto autor. Mas por que se utilizar de um defunto autor para narrar essas memórias? Bem, ele próprio nos explica:
Talvez espante ao leitor a franqueza com
que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira
virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses,
a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os
rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à
consciência; e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros,
embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma
sensação penosa, e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que
diferença! que desabafo! que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa,
deitar ao fosso as lantejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitarse,
confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque, em suma, já não há
vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos; não há
platéia. O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo
que pisamos o território da morte; não digo que ele se não estenda para cá, e
nos não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do exame nem do
julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos
finados.
Dessa forma, o autor
nos conta sua história sem filtros, sem reservas, pois como está morto não precisa se preocupar com o julgamento social, coisa que ele já não fazia lá com
muita frequência quando vivo, pois sim, Brás era um grandessíssimo... filhinho de papai mimado.
Uma coisa que me chamou
a atenção é a participação do Quincas Borbas, como amigo de infância de Brás. E
um livro com um início incrível merece um final incrível:
Este último capítulo é todo de negativas.
Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não
conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa
fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte
de D. Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e
outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e
conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a
este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira
negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a
nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
Fica muito recomendado
o livro. Espero que tenham gostado.
Beijos e até a próxima.
Oi, tudo bem?! Me chamo Daniel e conheci seu blgo agora, mas já estou adorando! Já estou seguindo!! :)
ResponderExcluirAdorei a resenha, esse parece ser um clássico de primeira. Essa edição está impecável...
Abraços do Dan ^-^
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Oi Daniel, Obrigada. Realmente o livro é muito bom, Machado é incrível. Beijos.
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