Tudo bem com vocês??? No post de hoje irei comentar sobre o
livro Dois Irmãos de Milton Hatoum,
segundo livro do autor, publicado em 2000, 11 anos após o romance de estreia de
Hatoum, Relato de um certo oriente, de
1989.
SINOPSE:
Onze anos depois da publicação de Relato
de um certo Oriente, Milton Hatoum retoma os temas do drama familiar e da
casa que se desfaz. Dois irmãos é
a história de como se constroem as relações de identidade e diferença numa
família em crise.
O enredo desta vez tem como centro
a história de dois irmãos gêmeos - Yaqub e Omar - e suas relações com a mãe, o
pai e a irmã. Moram na mesma casa Domingas, empregada da família, e seu filho.
Esse menino - o filho da empregada - narra, trinta anos depois, os dramas que
testemunhou calado. Buscando a identidade de seu pai entre os homens da casa,
ele tenta reconstruir os cacos do passado, ora como testemunha, ora como quem
ouviu e guardou, mudo, as histórias dos outros. Do seu canto, ele vê
personagens que se entregam ao incesto, à vingança, à paixão desmesurada.
O lugar da família se estende ao
espaço de Manaus, o porto à margem do rio Negro: a cidade e o rio, metáforas
das ruínas e da passagem do tempo, acompanham o andamento do drama familiar.
O livro é narrado em primeira pessoa por Nael, através das suas
memórias e do que Domingas e Halim lhe contaram. Sendo assim o livro não tem
uma ordem cronológica, pois é narrado através de memórias, e uma lembrança vai
puxando outra, que leva a outra, o pode dificultar um pouco a compreensão de
certos pontos.
Além disso, não podemos ter certeza se de fato as coisas
aconteceram como foi narrado e do sentimento experimentados pelos personagens
sem voz na narrativa, já que além de serem lembranças, os narradores colocam
muito de suas emoções e impressões ao narrarem essas lembranças.
Ao longo da obra acompanhamos o crescimento dos gêmeos e do próprio
narrador. É muito interessante observar a mudança de percepção de Nael sobre os
acontecimentos conforme vai amadurecendo.
Algumas de suas memórias de crianças Nael não são bem claras
ou diretas sobre alguns acontecimentos, já que ele não os compreendia, mas o
leitor percebe o que está acontecendo, o que é bem perturbador.
Um dos fatos abordados que me chamou muito a atenção foi à situação
de Domingas e de seu filho. Ela numa situação de trabalho escravo, não com
chicote, pelourinho e senzala, mas ela passou a existência abdicando da própria
vida para servir a família e nunca por escolha própria, mas cumprindo uma sina
que lhe fora imposta. Nael sendo sempre o filho da empregada, garoto de recado
e faz tudo, nunca sendo reconhecido de fato como membro da família, mesmo sendo
filho de um dos gêmeos.
Hatoum cria personagens extremamente vívidos e complexos –
com suas qualidades e defeitos.
· Zana: forte, decidida, mas também umas
das forças que alimentava esse ódio entre os irmãos, com sua predileção
escancarada pelo “caçula”, sendo extremamente permissiva e possessiva,
principalmente em relação a Omar.
· Halim: marido amoroso, mas pai omisso e
assim como Zana, permissivo.
· Rania: independente, excelente
comerciante, mas é totalmente esquecida pela família, a não ser para ajudar a cuidar do irmão, ou tocar a loja. E apesar disso não se impõe.
· Omar: não consegui encontrar qualidades
nele, achei um pulha, insuportável, mimado, egoísta e arrogante.
· Yaqub: é inteligente, aplicado, mas é
muito amargurado com o fato de não ser tão querido pela mãe quanto o irmão e principalmente por ter sido o único separado
do convívio familiar e nunca descobrimos o que se passou no Líbano, já que é um
assunto não comentado por Yaqub, pois ele sempre se sentiu rejeitado por ter
sido enviado sozinho para lá.
“Foi o seu último baile. Quer dizer, a
última manhã em que viu o irmão chegar de uma noitada de arromba. Não entendia
por que Zana não ralhava com o Caçula, e não entendeu por que ele, e não o
irmão, viajou para o Líbano dois meses depois”
Não consegui para de pensar o quanto a criação têm influência
sobre uma pessoa, o quanto à falta de limites é prejudicial no caráter de uma
pessoa, e isso tenho visto cada vez mais, afinal, é mais fácil ser permissivo
do que negar, dar limites. A falta de amor e de atenção, Yaqub, torna a pessoa amarga, já o excesso de mimos e de atenção, Omar, pode tornar alguém inconsequente e egoísta.
Claro que a criação de um filho vai muito além, mas é inegável que isso é muito
importante, e esse livro só reforçou um sentimento que tenho desde meus 9 anos de
idade e nunca titubei: não quero ter filhos.
No quesito ambientação Milton dá um show. A forma como Manaus
é retratada e inserida na obra é muito interessante, podemos perceber as
mudanças ocorridas ao longo da narrativa, desde Manaus de pescadores a Zona
Franca de Manaus, o que é muito legal, pois nos permite conhecer um pouco mais
do nosso Brasil.
Com relação a adaptação para a TV na forma de minissérie,
posso dizer que gostei, não houve tantas alterações ou cortes, mas manteve as oscilações
temporais.
Então é isso, super mega ultra blaster recomendo a leitura. Espero
que vocês tenham gostado, beijos e ate a próxima.
Oi Helena.
ResponderExcluirNão cheguei a ler a obra, mas vi a produção da Rede Globo sobre o assunto e cheguei as mesmas conclusões que você sobre as dificuldades de se ter um filho e criá-lo para o mundo. Não é fácil ser mãe, e acho muito bacana do autor explorar a educação dos pais de uma maneira não utópica como é frequente.
Beijos.
Fantástica Ficção
Também gostei muito da abordagem do autor. Recomendo, beijos.
ExcluirOie!!
ResponderExcluirDesde que teve a minissérie eu fiquei bem curiosa por essa obra. Até cheguei a pegar em um sebo, mas ainda não consegui ler.
Realmente as dificuldades de ter um filho e de criá-lo é cada dia mais gritante. E o quanto de coisas que tem nesse caminho que influenciam e muito a pessoa, digo pois vejo em minha própria família. Eu também tenho o mesmo sentimento que você, não quero ter filhos. E imagina também como sou criticada por isso. É o mundo....
bjs
Fê
Pois é, as pessoas adoram criticar as escolhas dos outros :( Recomendo o livro, depois me conta o que achou. beijos.
ExcluirOiiii,
ResponderExcluirAdorei saber mais sobre essa obra, não conheço o livro e nem assisti a minisérie, mas sua resenha me despertou interesse. Adoro quando a narrativa é através de memórias, me sinto mais próxima do personagem e de sua história, é igual ler um diário. Também adorei o fato da ambientação ser em Manaus e abordar uma questão tão interessante como criação de filhos. Isso que você pontuou do fato dos pais serem muito permissivos acontece muito na criação atual. Vejo muita criança mimada e mal educada devido a liberdade excessiva que os pais lhes dão. É algo a se pensar e refletir.
Adorei saber mais sobre a obra!
Bjokas da Elo!
http://cronicasdeeloise.blogspot.com/
Com certeza, eu que o diga, trabalho como professora e fico horrorizada em vários momentos. Beijos.
ExcluirSim a criação é EXTRAMENTE importante independente se rico ou pobre , são os valores que se vee ou se aprende em casa que realmente vai contar na formação da criação.
ResponderExcluirFiquei receosa com o tipo de narrativa, ainda não li um livro assim mas fiquei com a sensação de que vou ficar confusa e me perder na leitura, mas nada como tentar não é mesmo?!
Amei a dica , heheheeh parabéns pela resenha está bem intrigante!!
Oi, a confusão rola um pouco no começo, mas logo nos acostumamos. Com certeza vale a pena dar uma chance. Beijos.
ExcluirEu não conhecia esse livro e não lembro de ter visto algo sobre a minissérie também, sou bem desligada, às vezes, rs. Eu gostei muito da premissa desse livro e de ele ser em Manaus, não são muitos livros que tem esse cenário, né?
ResponderExcluirE a criação tem muita influência sobre as pessoas mesmo, ajuda nos nossos valores e afins.
Parabéns pela resenha!
Bjo
~ Danii
Obrigada, realmente são poucos livros ambientados na região, gostei muito. Vale a pena conferir. Beijos.
ExcluirÉ amiga, realmente, criação é muito importante e atualmente ninguém quer ter esse trabalho, deixam a TV educar e depois reclamam do estrago.
ResponderExcluirtenho 3 enteados e não pretendo ter mais filhos com meu marido justamente por isso. é muito lindo e fofo um bebê, mas ele cresce e com todo o trabalho que já tivemos eu já passei da minha cota de responsabilidade! rsrs
osenhordoslivrosblog.wordpress.com
Pois é, quando não é a TV é a escola, uma sala com 30 crianças e um adulto :( que além de ensinar o conteúdo tem de rebolar para educar, é complicado. Beijos.
ExcluirNão conhecia a obra, nem sabia que tinha adaptação, que legal. Achei muito interessante a forma que a história é narrada, por lembranças. Amo uma história não linear e quando é algo puxado da memória sempre fica essa dúvida de se foi real ou não. Adoro isso! Gostei muito da premissa e achei legal que se passe em Manaus. Bacana demais!
ResponderExcluirBeijos,
Isa
taglibraryisa.blogspot.com
Super recomendo, a ambientação é ótima, e os personagens bem humanos. Vale a pena conferir. Beijos.
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